segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Bird Mark 7 - Descrição do aparelho

I - HISTÓRICO

Antes de descrever o Bird Mark 7, farei um breve comentário sobre a origem deste simples respirador que tanto contribuiu para a assistência ventilatória de muitos pacientes com insuficiência respiratória.

O Sr. Forrest Bird, antes de criar o Bird Mark 7, foi piloto de avião na II Guerra Mundial, a sua experiência como piloto o levou a desenvolver naquela época, um equipamento para facilitar a respiração dos pilotos aeronautas durante os vôos em grandes altitudes. Em 1951, o Sr. Forrest realizou algumas modificações neste equipamento que o tornaram viável para ajudar a ventilar um amigo com insuficiência respiratória em decorrência de enfisema pulmonar. O protótipo (mão esquerda do Sr. Forrest), foi desenvolvido em uma lata de café, nela havia dois ímãs conectados a um diafragma de borracha por meio de uma haste, uma válvula de liberação de gás, pequenos tubos para conexões, um botão regulador, um manômetro de pressão e pouca coisa a mais. Acabara de nascer o famoso Bird Mark 7.


Este aparelho recebeu algumas modificações, influenciadas pelos Drs. A.L. Barach e Andre Cournand, até chegar ao modelo atual que ganhou projeção mundial pela sua simplicidade e facilidade no manuseio (mão direita do Dr. Forrest Bird).

Muitas vidas foram salvas com este respirador. Hoje em dia, apesar da tecnologia avançada presente nos diversos respiradores microprocessados, o Bird Mark 7 ainda é utilizado nas enfermarias e UTIs de muitos hospitais públicos e privados no nosso País.

Existe um grande preconceito relacionado à sua limitação e simplicidade diante dos avançados microprocessados com as suas fascinantes telas de cristais líquido repletas de gráficos e números, além dos variados alarmes sonoros e dispositivos de segurança modernos.

Tudo isso fez com que o interesse pelo aprendizado e manuseio deste simples respirador fossem deixados de lado e muitos problemas relacionados ao seu MAU USO passou a recair como desculpa sobre o "pouco recurso" disponível neste aparelho.

Em um dos hospitais que passei, quando comecei a estagiar em Terapia Intensiva, a maioria dos leitos da UTI era composta pelo Bird Mark 7 e família (8,10...), tínhamos que conhecê-lo muito bem. Por ele não ter alarmes sonoros, indentificávamos as principais alterações na ciclagem pela mudança no padrão do ruído nas fases inspiratória e expiratória.

Eu posso afirmar que o aprendizado que tive sobre VM e os seus princípios foram consolidados quando lidei com este respirador. Através dele, entendi as relações entre as variáveis físicas ventilatórias e o comportamento mecânico do SR durante a VM. Como a única leitura direta fornecida por este respirador é a pressão, as mudanças nas relações pressão/volume e fluxo/tempo só podem ser precebidas clinicamente, por meio da ausculta pulmonar, da expansibilidade torácica e do conforto ventilatório do paciente, ou quando se dispõe de um ventilômetro, pela leitura do volume expirado.

O ajuste de qualquer parâmetro em qualquer modalidade ventilatória, está realcionado aos seus efeitos na troca gasosa, no conforto ventilatório do paciente e nos riscos de complicações pulmonares e sistêmicas da ventilação mecânica por pressão positiva, é fundamental também ter um bom conhecimento sobre o quipamento em questão para extrair o máximo possível os seus recursos em prol de uma melhor ventilação alveolar e conforto ventilatório. Quanto menor a capacidade do equipamento disponível, maior deverá ser a competência do profissional que o opera.

Então, em virtude do que já foi dito, monstrarei este respirador através de fotos ilustrativas dele e dos seus componentes e tentatei fazer uma explicação clara e objetiva sobre a sua montagem e funcionamento.

II - DESCRIÇÃO DO BIRD MARK 7

Foto - Vista anterior.

Entrada de gás da rede: Para um bom funcionamento, o Bird Mark 7 deve estar conectado à rede de gases (oxigênio) por meio de uma válvula redutora de pressão (a válvula será mostrada mais adiante).

Fluxo inspiratório: Este botão permite o ajuste do fluxo inspiratório, como o fluxo é a velocidade de deslocamento do gás, neste caso este controle determina o tempo inspiratório (em segundos). Quanto maior o fluxo, menor o tempo e vice-versa. Nos adultos, estabecemos em média um tempo inspiratório de 1 segundo.

Manômetro de pressão: Este dispositivo registra todas as pressões nas vias aéreas (em cm H2O). O registro principal é o da pressão inspiratória, ela determina a expansão pulmonar e o volume corrente (que neste respirador não é registrado).

Tempo de apnéia: Este botão controla o tempo de pausa do Bird (em segundos), ou seja, através dele o paciente realiza a expiração. Programamos normalmente um tempo expiratório maior que o inspiratório obedecendo uma relação dos tempos inspiratório-expiratório entre 1:2 ou 1:3.

Air mix: Este botão permite variar a concentração de oxigênio do gás inspirado. Quando tracionado, libera uma mistura de aproximadamente 60% de oxigênio. Quando empurrado, libera 100% de oxigênio.

Freqüência respiratória: Este parâmetro é obtido pelo somatório dos tempos inspiratório e expiratório, FR = TI + TE. A FR junto com o volume corrente (não aferido por este respirador) determinam a ventilação minuto alveolar e a PaCO2.

Foto - Vista lateral esquerda.


Na câmara de sensibilidade, compartimento maior onde se encontra o manômetro de pressão, temos:

Controle da sensibilidade: Através deste botão, controlamos a pressão de disparo do respirador quando o paciente apresenta "drive" respiratório - ventilação assistida. Devemos mantê-la sempre no menor valor possível (maior sensibilidade) sem que ocorra auto-disparo.

Entrada para o ar ambiente: Uma pressão subatmosférica é gerada dentro da câmara de sensibilidade por meio de um dispositivo (Venturi) quando o air mix está tracionado, esta pressão "negativa" faz com que o ar ambiente penetre primeiro nesta câmara através de um filtro metálico de cobre, em seguida o ar ambiente se mistura com o oxigênio na câmara de pressão fornecendo uma mistura gasosa (FiO2) de aproximadamente 60 %.

Foto - Vista lateral direita.

Na câmara de pressão, compartimento menor, temos:

Controle de pressão inspiratória: Neste controle programamos a pressão inspiratória, esta pressão promove a expansão dos pulmões para gerar um volume corrente. O VC não é constante durante a ventilação neste respirador, ele sofre algumas influências que serão comentadas a seguir.

Saída gasosa para o macronebulizador, micronebulizador e válvula expiratória (ramo fino): Esta saída aciona os dispositivos de inalação (macro e micronebulizadores - opcionais) durante a inspiração e controla a válvula expiratória que se fecha durante a inspiração e se abre durante a expiração.

Saída do fluxo inspiratório (ramo grosso): Esta saída é responsável pelo fluxo inspiratório destinado à ventilação pulmonar (volume corrente).

Obs.: Este respirador é desprovido de PEEP, alguns circuitos podem ter dispositivos com orifícios para retardar a queda pressórica durante a expiração ou então, podemos adaptar um selo d'água ou uma válvula "spring load" para fornecer PEEP.

Foto - Respirador montado.


Válvula de oxigênio:
Como foi mencionado no início, para o bom funcionamento do respirador ele deverá estar conectado a uma válvula redutora de pressão graduada na faixa entre 3 e 4 Kgf / cm2, estas válvulas apresentam uma marcação colorida na faixa recomendada para uso.

Montagem com o suporte: O suporte tipo "bengala" para o Bird permite variar o posicionamento do respirador ao redor do leito do paciente, para isso ele é composto de um cabo longo para a rede de oxigênio.

Montagem direta na rede (parede): Esta montagem é feita diretamente na válvula redutora de pressão da rede de oxigênio, esta forma economiza espaço mas limita o manuseio do respirador junto ao leito.

III - ALGUNS TIPOS DE CIRCUITOS RESPIRATÓRIOS

Foto - Circuito em "T" com HME.

Este circuito foi mostrado nas fotos anteriores, ele é composto somente com uma peça "T" (por isso ele é chamado de circuito em "T"), uma conexão universal e a válvula expiratória. Um filtro HME - Heat and Moisture Exchangers (trocador de umidade e calor) está conectado na peça "T". É mais fácil de montar e diminui a possibilidade de escape de gás pelas conexões durante a VM (poucas conexões). O ramo fino aciona a válvula expiratória. A umidificação com o flitro HME não deixa formar condensado no circuito, ele deve ser trocado a cada 24 hs ou quando necessário.

Foto - Circuito em "T" com micronebulizador.

Este circuito é mais utilizado para aplicação de nebulização por RPPI, ele é composto por um micronebulizador (ideal para inalação de medicamentos) que está adaptado a uma peça "T" e uma conexão universal, esta conecta-se a outra peça "T" onde se encontra a válvula expiratória e outra conexão universal para a VAA do paciente. O ramo fino aciona o micronebulizador e a válvula expiratória.

Foto 3 - circuito em "Q" com macronebulização.

Este circuito é chamado assim porque a conexão para a VAA se parece com a letra "Q". Ele é utilizado para ventilação prolongada. É composto na extremidade proximal por um macronebulizador (realiza a umidificação das vias aéreas) que está adaptado entre o ramo grosso e uma peça metálica de fixação para um suporte e um segmento do ramo grosso que se conecta ao respirador. Na extremidade distal existe uma conexão com três vias (duas vias para o circuito: ramo inspiratório e ramo expiratório e uma para a VAA do paciente), o ramo expiratório do circuito segue para a válvula expiratória. O ramo fino aciona o macronebulizador e a válvula expiratória.

IV - MODALIDADE VENTILATÓRIA

Este respirador fornece o modo ventilatório ciclado a pressão, nele a inspiração é finalizada quando a pressão inspiratória máxima é atingida. Esta modalidade deixou de ser utilizada por ser menos vantajosa para a ventilação alveolar (veremos adiante). O paciente pode receber uma ventilação controlada ou assistida. A pressão inspiratória, o fluxo inspiratório, a FiO2 (60 ou 100%) e o tempo expiratório são programados diretamente no aparelho. O tempo inspiratório é dependente da pressão inspiratória, do fluxo inspiratório e das impedâncias do SR do paciente (elastância e resistência), da VAA e do circuito respiratório. A FR é determinada pelos tempos ins. e exp. O volume corrente é inconstante, ele sofre variações com o valor da pressão inspiratória e com as impedâncias do SR, da VAA e do circuito respiratório.

Os gráficos abaixo, relacionam as variáveis físicas VC, fluxo insp e pressão inspiratória com o tempo. No gráfico PRESSÃO X TEMPO (fase inspiratória) de ambos os modos ventilatórios - ciclado a pressão (Bird Mark 7) e ciclado a tempo (PCV), existem duas áreas (cinza escura e cinza clara), a escura representa a pressão resistiva (pressão friccional dissipada pelas vias aéreas do paciente, VAA e circuito respiratório durante a inspiração), esta pressão não se relaciona com o VC. A área clara representa a pressão de distensão do pulmão e da parede torácica e está diretamente relacionada com o VC.

Se compararmos as curvas pressóricas de ambos os modos, veremos que elas se comportam de modo diferente. Estas áreas representam o volume corrente alveolar para cada modalidade (ver gráfico VOLUME X TEMPO). Podemos ver que o VC é menor no modo ciclado a pressão que no ciclado a tempo, isto representa uma desvantagem ventilatória. No PCV a pressão inspiratória máxima é sustentada por um determinado tempo e isto resulta numa distribuição melhor do VC pelas unidades alveolares com constantes de tempo diferentes (veja também a postagem sobre o modo PCV).

Eu recomendo, se possível, que a programação do Bird seja feita com o auxílio de um pulmão de teste antes de acoplá-lo ao paciente, isto facilita: a percepção de escapes de gás nas conexões do circuito e da VAA, a identificação de problemas na ciclagem do aparelho e o ajuste melhor do respirador antes dele ser acoplado ao paciente. Considerando que neste respirador, a resistência do conjunto (paciente, circuito respiratório e VAA) pode consumir boa parte da pressão inspiratória, não está errado programar uma pressão um pouco maior que a de costume, principalmente quando nos deparamos com pacientes obstrutivos ou restritivos (obesos). Lembremos que na auxência da PEEP, hipoventilação alveolar e atelectasias podem surgir com freqüência, a realização 2 ou 3 vezes ao dia de expansão pulmonar com pressões inspiratórias maiores (como suspiros) pode ajudar a prevenir complicações em decorrência de acúmulo de secreções e hipoventilação.

Aguardem as novas publicações!

Na seqüência falarei sobre outros respiradores.

Abraços a todos.

domingo, 14 de dezembro de 2008

GERADOR de FLUXO "de baixo custo" para CPAP

Taí galera!!!

Para quem não pode comprar, ensinarei a fazer um GERADOR de FLUXO para CPAP barato com peças de oxigênioterapia adaptadas e que podem ser compradas com baixo custo.

Este gerador "barato" está acessível a todos que estão dispostos a encarar a façanha de construí-lo.

Todos nós, fisioterapeutas e profissinais da saúde que lidam com pacientes pneumopatas, sabemos da importância do CPAP no tratamento de muitas complicações respiratórias. Eu não pretendo discutir nesta exposição as indicações ou contra-indicações do seu uso. Aqui, vou demonstrar passo a passo como se constrói um gerador de fluxo de baixo custo que pode ser confeccionado por qualquer pessoa, desde que tenha um pouquinho de habilidade manual.

Inicialmente mostrarei as ferramentas que utilizarei para confeccioná-lo(vejam as fotos).



1-Uma espátula pequena, serve qualquer objeto semelhante a uma faca de cozinha pequena sem serra ou fio de corte (este material serve para misturar a cola epóxi).
2-Uma cola epóxi pequena tipo SOS (que encanador utiliza para tapar furos em canos, ela tem duas partes que se misturam) encontra-se também nas casas de construção, custo aproximado de R$ 7,00. Dêem preferência para as sem amianto. Outro tipo de cola também serve (ex.: super bonder, araldite...) mas eu não tenho muita experiência com elas.



3-Uma serra pequena para metal que é vendida nas casas de construção, é bem barata.



4-Uma folha de lixa de textura fina para metais, custo aproximado de R$ 2,50.
5-Um lápis e uma régua.







6-Fio de nylon nº 0.50.
7-Uma furadeira e uma broca fina para metal ou madeira. Costumo utilizar duas brocas, uma mais fina para fazer um furo inicial e outra mais grossa, da largura da ponteira, para o encaixe da ponteira na peça "T".




Eu prefiro trabalhar com uma microrretífica (mostrada na primeira foto), que é uma minifuradeira leve e fácil de manusear. Com ela, eu substituo a furadeira convencional, a lixa e a serra e o acabamento fica melhor. Mas não se preocupem caso não tenham uma microrretífica, é possível construí-lo sem ela, vocês só terão um pouco mais de trabalho. A serra e a lixa serão necessárias neste caso.

Agora, vamos para os materiais que darão origem ao gerador de fluxo. Vocês poderão comprar todos os materiais nas casas de materiais médico-hospitalares.

Vejam as fotos dos materiais:



1-Uma peça "T", custo aproximado de R$ 10,00.
2-Uma peça ou conexão universal (opcional), custo aproximado de R$ 6,00.
3-Um adaptador de tubo orotraqueal - TOT nº 7.5, 8.0 ou 8.5 (não serve menor ou maior que estes), custo aproximado de R$ 7,00 ou um kit com 12 peças (só as ponteiras) por um preço de R$ 16,00 (só utilizaremos os números acima).







4-Uma ponteira de metal pequena (tipo aquela encontrada no circuito do respirador Bird Mark 7). Ela é vendida separadamente do circuito. Existem alguns modelos com uma base mais larga, neles é possível fazer uma abertura maior na parte de trás com a furadeira ou a microrretífica e um esmeril fino tornando um encaixe fêmea para o bico do chicote (será comentado posteriormente). O custo aproximado da ponteira metálica é de R$ 10,00.

5- Um chicote para micronebulização no oxigênio, custo aproximado de R$ 6,00.

Agora, vocês devem estar me criticando pela quantidade de material que selecionei para vocês. Gente, infelizmente não é possível construir o gerador sem estes materiais. O custo destes materiais pode ser até 20 vezes mais barato que o de um gerador industrializado. O melhor disso tudo, é que vocês poderão confeccionar quantos geradores quiserem, desde que tenham os materiais necessários para construí-los. A recompensa vocês terão quando forem atender um paciente com desconforto respiratório com a indicação de CPAP e o material estiver à mão. Eu já tive algumas frustrações por não ter os materias que necessitava, inclusive o CPAP, para atender alguns dos meus pacientes e por isso estou aqui mostrando para vocês como construir um.

Vamos agora construí-lo!



Eu começo a trabalhar no adaptador de TOT, retiro as abas laterais para que ele fique todo arredondado na largura do seu próprio encaixe. Ele será encaixado no ramo transversal da peça "T" (ramo menor). Vejam a foto abaixo.



Eu prefiro utilizar a microrretífica para fazer isso, mas pode ser feito também com uma serrinha e o acabamento pode ser dado com uma lixa fina(vejam as primeiras fotos).

Em seguida vou para a peça "T", esta peça tem três ramos, dois maiores que estão alinhados entre si e um mais fino que está transversalmente aos dois maiores.



Primeiramente, com o auxílio de uma régua eu faço um risco com um lápis na borda lateral de um dos ramos maiores e repito no ramo contralateral. Isto serve para que eu localize o ponto central posterior da peça onde farei um furo para colocação da ponteira metálica.

Vejam as fotos abaixo.







Feito isso, faço um furo com uma broca fina na parte posterior da peça "T" (vejam as fotos).



Caso queiram utilizar uma furadeira, tenham muito cuidado para não danificarem a peça, o furo pode sair irregular ou grande demais. Neste caso, peçam uma ajuda a alguém.

Lembrem-se que a broca deve ser da largura ou um pouquinho mais fina que a ponteira, isto garantirá um encaixe firme e maior durabilidade ao gerador. Este furo deve estar localizado bem no meio entre os ramos largos, ele deverá coincidir com o centro da luz do ramo transversal da peça "T" (vejam a foto abaixo).



Para mostrar a colocação da ponteira metálica, utilizei uma conexão em "T" para tubulação de água. A peça "T" amarela será demonstrada posteriormente com uma ponteira modificada.







Podemos acoplar uma conexão universal na ponta do gerador (ela encaixa justa no adaptador de TOT), para coloca-la é necessário um pouco de força. A vantagem é poder acoplar o gerador em qualquer tipo de máscara ou de via aérea artificial.

Para o encaixe da ponteira metálica, coloco-a no furo e com um pouco de força, empurro até ficar bem encaixada e firme, posso ter que utilizar uma ferramenta para isso.

Em seguida, observo se a ponteira ficou centralizada no meio do ramo transversal, caso não, a retiro e faço os ajustes necessários para depois colocá-la de volta.

Para certificar se ficou bem posicionada, coloco o conjunto contra uma lâmpada acesa, a luz que passa pelo orifício da ponteira deve estar bem no centro do adaptador de TOT (que está encaixado no ramo da peça "T"). A peça ilustrativa abaixo não ficou bem posicionada contra a luz no momento da foto, mas o furo ficou centralizado.



É muito importante que a ponteira fique bem centralizada, pois através dela um fluxo de gás deverá passar em direção ao centro do ramo transversal da peça "T".

Se houver desvios do fluxo em direção a parede do ramo da peça "T" o gerador diminuirá sua eficácia.

As fotos que seguem são com a ponteira metálica modificada. Para isso, retirei a parte corrugada e fiz uma dilatação na parte de trás (encaixe fêmea) para que se adapte a qualquer tipo de chicote (não será demonstrado o processo de dilatação da ponteira por ser trabalhoso).

Para firmar bem a ponteira metálica no furo eu tenho que passar um pouco de cola epóxi (pode ser outro tipo de cola) ao redor dela e na peça "T" (vejam a foto).

Primeiramente, retiro a ponteira para poder lixar a parte de trás da peça 'T", para que a cola adira melhor, em seguida, coloco-a de volta (conforme explicado acima). Pego partes iguais da cola, coloco um pouco na mão e misturo bem com uma espátula até que a massa atinja uma coloração acinzentada uniforme.

Vejam as fotos.











Depois, aplico a cola na peça "T" e ao redor da ponteira e com o dedo umedecido (para que a cola não grude na mão) aliso bem, o acabamento fica melhor. Espero secar bem por pelo menos 3 horas. Quando a cola estiver bem seca e dura posso conectar o chicote.



Colas como super bonder ou araldite secam muito rápido, certifiquem-se se o acabamento ficou bom antes que a cola seque. A peça da foto, como já comentei, foi feita com uma ponteira metálica que teve sua traseira modificada (cortada e dilatada) para torná-la um encaixe fêmea e poder receber o bico de qualquer chicote, neste caso não devemos cortar a ponta do chicote.

Também posso utilizar uma ponteira metálica na sua forma original (com a traseira fina e sulcada) foto mostrada acima com a conexão "T" para tubulação de água. Neste caso é necessário cortar todo o bico do chicote de nebulização, em seguida encaixo o tubinho do chicote por fora na ponteira. Amarro os dois com um fio de nylon para que não se soltem. A cola não deve ultrapassar a extremidade sulcada da ponteira. A fixação do chicote só deve ser feita quando a cola estiver totalmente seca e dura.

Está pronto o gerador!!!



É só levá-lo para o hospital e testá-lo na rede de gases (oxigênio ou ar comprimido). É possível fazer um gerador, do modelo com a ponteira original, com um chicote só para o ar comprimido, porém o maior uso do CPAP é no oxigênio. Fica muito bom conectar uma peça universal.

Eis uma visão lateral do gerador de fluxo, dá para ver bem a parte interna da ponteira.



As características do gerador conferem a ele uma determinada mistura entre o ar ambiente (que é arrastado pelos ramos laterais) e o oxigênio da rede que entra no gerador. Esta mistura pode variar, mas é possível saber a FiO2 aproximada (mostrarei como no final da exposição).

Aqui está ele acoplado ao chicote de oxigênio.



É importante utilizar o adaptador do TOT na numeração recomendada para que se consiga gerar pressões maiores, sem ele, não é possível atingir nem 5 cm H2O, mesmo com a válvula redutora ou o fluxômetro bem abertos (mostrarei depois como escalonar a PEEP do gerador). Adaptadores maiores resultam em baixa pressão e os menores em aumento da resistência expiratória - perigoso se utilizado como "contra-fluxo".

Existem duas formas de fazer CPAP com um gerador de fluxo contínuo.

Uma é com um resistor pressórico (ex.: válvula "spring load" ou selo d'água) e a outra é sem ele. Utilizando um resistor, o CPAP fica mais preciso e o fluxo da rede torna-se independente da PEEP. É possível fornecer um fluxo alto e uma PEEP no valor graduado no resistor. Ele pode ser montado com uma máscara valvulada (insp. e exp.) ou uma peça "T" e algumas conexões.

A outra forma (sem o resistor - "contra-fluxo") é mais simples, o gerador é conectado direto na saída de uma máscara comum, máscara com um único orifício, através de um pequeno adaptador ou uma conexão universal. A PEEP surge pelo "contra-fluxo" do gás que sai do gerador para as vias aéreas do paciente. Nesta forma, a PEEP é diretamente dependente do fluxo da rede e não se pode determiná-la. O conhecimento da PEEP, neste caso, só pode ser feito com um manômetro conectado ao sistema ou através de um escalonamento prévio do gerador (será falado mais adiante). Quando necessitamos de um fluxo inspiratório alto a PEEP se eleva junto e quando reduzimos o fluxo ela também abaixa.

Bem, nós sabemos que o ajuste da PEEP durante o CPAP é feito pelo trabalho respiratório, pela oxigenação arterial e pelo conforto do paciente. Então, cabe a nós, durante a aplicação do CPAP, monitorar o esforço do paciente pela atividade muscular respiratória (inspiração e expiração) e oxigenação arterial (oximetria ou gasometria arterial), se ambos estiverem melhorando, provavelmente a PEEP gerada estará sendo adequada.

Esterilização do gerador

Pode ser feita com hipoclorito, álcool 70% ou óxido de etileno, a massa epóxi não solta fragmentos depois de seca. Utilizem as marcas que não contém amianto, algumas que contém só fazem mal quando lixadas a seco e o pó inalado. Como já mencionei, não é necessário lixá-la. Lavem bem o material depois de seco com uma escovinha e sabão.

Escalonamento do FLUXO do gerador de fluxo

Para saber o fluxo que o gerador é capaz de fornecer, basta acoplar um ventilômetro na sua saída (conexão universal), abrir o fluxômetro da rede ou a válvula redutora de pressão em alguns valores (ex.: 5, 10, 15 e 20 L/min ou 0.5, 1.0, 1.5, 2.0, 2.5 e 3.0 Kgf/cm2, respectivamente) e disparar o ventilômetro por um minuto. O volume afarido pelo ventilômetro em um minuto é o fluxo gasoso do gerador. Pode-se fazer uma tabela que correlaciona as faixas de fluxo (fluxômetrto) ou pressão da rede (válvula redutora) com o fluxo correspondente do gerador.

Escalonamento da PEEP do gerador de fluxo

É possível saber qual a PEEP que o gerador é capaz de fornecer caso não tenhamos uma válvula "spring load" nem um manômetro acoplado ao gerador para a realização do CPAP. Existe uma relação entre a PEEP do gerador e a pressão de entrada da rede de gases medida através de uma válvula redutora de pressão - Kgf/cm2.

Para isto, precisamos inicialmente de um manômetro em cmH2O, serve o manovacuômetro e uma conecção para inserí-lo no gerador (ramo de saída do fluxo).

Esta medida serve para escalonarmos o gerador e a partir daí não será mais necessário inserir um manômetro no sistema sempre que aplicarmos CPAP ao paciente.

Primeiramente, conectamos o gerador na válvula redutora de pressão através do chicote, conectamos o manômetro no ramo de saída de fluxo do gerador e abrimos a válvula redutora até 1Kgf/cm2, por exemplo.

Por fim, obstruímos com o mão a saída do fluxo após a conexão para fazermos a leitura do pressórica do manômetro. Podemos repetir a leitura com 2Kgf/cm2 e 3Kgf/cm2.

Ex.: Se com 1Kgf/cm2 a PEEP ficou em 10 cmH2O, provavelmente com 2 Kgf/cm2 ela será de 20 cmH2O e assim por diante.

Desta forma saberemos qual a PEEP que estamos dando quando utilizamos um sistema de CPAP simplificado (já mencionado) sem a válvula "spring load" desde que esteja conectado a uma válvula redutora de pressão. Pode-se utilizar o mesmo método com um fluxômetro (ex.: "x" L/min no fluxômetro corresponde a "y" cmH2O no gerador).

A pressão gerada pelo aparelho depende da sua configuração geral (comprimento e diâmetro do orifício interno da ponteira metálica e da peça "T", da distância entre extremidade interna da ponteira metálica e o começo do ramo transversal da peça "T", do diâmetro interno do adaptador de TOT e da sua distância da ponteira metálica...).

Cálculo da FiO2 do gerador de fluxo

O gerador é um dispositivo que utiliza o princípio de Venturi. Esta medida pode ser feita de duas maneiras:

A primeira requer um oxímetro de linha, isto se você dispõe de um no CTI onde trabalha. Este aparelho analisa a concentração de oxigênio que passa pelo circuito do respirador ou pelo sistema de CPAP. Os capnógrafos têm oxímetro de linha incorporado e fazem o mesmo. É só conectar o aparelho próximo ao gerador de fluxo, adicionar uma traquéia de 50 cm depois da conexão do oxímetro ou do capnógrafo , abrir a rede de oxigênio e fazer a leitura da FiO2. Varie os fluxos para certificar se a FiO2 se mantém constante e anote estes dados.

A outra maneira é mais complicada, para fazê-la necessitaremos de um cronômetro, de um ventilômetro e de um fluxômetro na rede de oxigênio. Conectamos o gerador ao fluxômetro e o abrimos a um determinado valor arredondado (para facilitar o cálculo), ex.: 10 L/min.

Em seguida, colocamos o ventilômetro travado na saída de fluxo do gerador e disparamos em sincronismo o ventilômetro e o cronômetro, após passar um minuto travamos o ventilômetro e medimos o volume minuto total registrado nele (este procedimento também serve para verificar o fluxo do gerador, foi demonstrado anteriormente).

Como o fluxo do fluxômetro é de 10L/min e este contém 100% de oxigênio, se o volume minuto registrado no ventilômetro for de 100L/min (por exemplo), faremos o nosso cálculo.

fluxômetro = 10 L/min ------------------ 100% O2
ventilômetro = 100L/min --------------- (x) FiO2

Então, diminuímos 100L/min por 10 L/min = 90 L/min (esse é o fluxo de gás arrastado do ar ambiente que contém 21% de O2) . Multiplicamos 90L/min por 21% (ar ambiente arrastado) = 1890 e 10L/min por 100% (oxigênio da rede) = 1000, somamos estes resultados = 2890 e dividimos por 100L/min (fluxo total aferido pelo fluxômetro) = 28,9 (esta é a FiO2 gerada pelo gerador de fluxo).

Existem geradores com maior capacidade de arraste de ar atmosférico que oferecem uma FiO2 menor ou o contrário disso. Esta característica também depende da configuração do aparelho (comentada anteriormente).

Espero ter ajudado!

A todos que leram esta publicação, façam seus comentários e os que estiverem dispostos a construir o gerador comentem o que acharam e os seus resultados.

Aguardem novas publicações.

Abraços!!!